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Ontem Havia Na REC

  • camaraescurarevist
  • 14 de out. de 2021
  • 3 min de leitura

por Vitória Flamarion

revisado por Catarina Bijotti


Um dos ilustres convidados da Semana REC do primeiro semestre de 2021 foi o cineasta Bruno Risas. Bruno é o diretor de “Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu”, disponível na Netflix. A conversa com o ex-aluno da Anhembi girou em torno do processo de construção do filme e de suas diversas potencialidades.

Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu” conta a história de uma família que, devido a dificuldades financeiras, precisa voltar a morar em sua antiga casa na Bresser. Um dia, a mãe é abduzida por um objeto voador não identificado. Bruno conta como começou o filme sem sequer saber que estava começando. Um dia em 2010, no intervalo de uma filmagem, o jovem que estava se interessando pelo formato de cine-diário capta uma imagem dos pais em sua casa de infância. Pronto. O filme estava começando. Algum tempo depois, ele e sua parceira Flora decidem começar o projeto do longa.

“Ontem Havia” propõe uma forma diferente de fazer cinema. Mistura o gênero documental à ficção científica, com uma pegada à la found footage. A parte mais documental do filme conta de fato a história e o dia-a-dia da família de Bruno, sendo ele, sua irmã, seus pais e sua avó os personagens que vemos em tela. O processo de criação muito teve a ver com se criar enquanto se vivenciava. O cineasta conta como todos os dias ia com sua equipe para a casa dos pais, perto da linha vermelha do metrô em São Paulo, e como todos os dias eles se sentavam em volta da mesa e conversavam. Por duas horas e meia, três horas, criando e trocando, e como a troca e a criação não cessavam com o ligar das câmeras.

Bruno conta algumas dificuldades que tiveram no processo, sobretudo com editais. A questão já é delicada no Brasil de forma geral, mas por causa do formato e da proposta, que fogem do convencional, ele conta que optaram por “entregar o que a Ancine queria” e depois encontrar uma forma de se encaixarem naquilo, sem cometer irregularidades, mas também sem prejudicar a obra.

Ele também falou sobre sua visão de cinema. Sobre como o audiovisual, a imagem em movimento, é o que temos de físico mais próximo ao sonho, não só por conta da imersão e da sala escura, mas em matéria de formato. Também foi comentado sobre a questão das relações de poder. Sobre como criar imagens é fazer um discurso que conta de onde somos, o que fazemos e para onde estamos indo, e como grandes potências do cinema, sobretudo comerciais, usam, como se utilizou a Igreja das imagens nas capelas, dessa potencialidade para criarem um discurso hegemônico. Ele insistiu no quanto é importante se libertar da estrutura racional proposta desde o iluminismo para dar lugar a outras formas de estar e existir.

A relação de poder entre cineasta, personagem e cineasta-personagem também foi discutida, e Bruno comentou como foi o processo de entender que ele, como diretor-personagem jamais estaria em pé de igualdade com os outros que apareciam em cena, mas como isso não impedia que ele desse lugar aos outros indivíduos como personagens-criadores. Aliás, outro ponto levantado foi esse: qual o papel do diretor na criação de uma obra? Para Bruno, cabe à direção escolher bem sua equipe e a partir daí criar condições para que essa equipe compartilhe um imaginário.

Algumas cenas, que para o diretor condensam as potencialidades do filme, foram analisadas de forma mais próxima. Como exemplo temos a cena da briga de Bruno com a mãe, que estava programada, mas que tomou outras proporções a ponto de tornar a cena incômoda para o cineasta assistir. Outra cena mencionada foi a que ele entrevista a mãe sobre sua história com o trabalho, que é constantemente interrompida.

“Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu” é um filme simultaneamente novo, fresco e nostálgico, que mostra o potencial de se criar cinema fora dos moldes. Ele pode ser assistido tanto na Netflix quanto na mostra “10 Olhares”, que se propõe a abrir um diálogo sobre a produção fílmica na década passada, de 2010 a 2020.


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