Representação asiática no cinema ocidental
- camaraescurarevist
- 14 de out. de 2021
- 3 min de leitura
por Marcela Akemi de Donno
revisado por Mariana Peixoto
Com a ascensão do movimento Stop Asian Hate nas ruas e na mídia, contra um sentimento racista aos asiáticos que cresceu visivelmente com o surgimento da COVID-19 em Wuhan, surge uma grande e necessária oportunidade de iniciar uma discussão sobre como essas minorias são representadas no cinema ocidental, uma vez que o cinema, muito político desde sempre, é um grande reflexo da sociedade.
Sou descendente de japoneses e sempre tive uma relação complicada com como sou representada nas telas. O cinema que dá bilheteria ainda é majoritariamente branco, e estes fazem cinema (surpresa) para brancos também. Os papéis asiáticos, sejam esses personagens do leste asiático, indianos, ou das ilhas pacíficas (e mais), são escritos com o público branco em mente e propagam estereótipos dolorosos, apenas para tentar tirar alguns risos de quem nunca teve que se preocupar em representação.

Gatinhas e gatões (1984)
A verdade é que existem pouquíssimas personalidades disponíveis para nós no cinema. Somos os nerds, gênios de exatas e tecnologias, sem habilidade social, os charlatões, os místicos não-humanos, os perdedores solitários, os submissos, propagadores ou vítimas de fetiches malucos e hipersexualização (em especial as mulheres). Só existe um personagem asiático nos filmes ocidentais, e ele provavelmente vai ser um deles.
Isso me dói, ainda mais quando vejo como esses estereótipos impactam fortemente minha vida, já que até mesmo os professores, que deveriam me educar, me chamavam de japonesa falsificada ou “xing-ling” com um sorriso maroto quando eu ia mal nas provas de matemática ou não os conseguia ajudá-los a mexer no computador. Ou quando todos assumiram que eu era tímida e solitária apenas pela minha raça, ou todas as vezes que me abordaram na rua com insultos apenas por eu existir. Para eles, sou a “sushi”, a japa gostosa e quietinha, a “vocês são tudo igual”, a garota anime fetichizada, a que tem obrigação de ser mais inteligente que todos ou serei uma decepção”. Ver como essas coisas ainda são propagadas em filmes até hoje me dói demais.
O que é confuso é que ao mesmo tempo em que ocorrem essas micro-agressões, há uma grande fixação com a cultura japonesa nos cinema, seja ele mais cult ou popular, uma influência onipresente. Mas não parece existir o mesmo respeito àqueles que originaram essa cultura e seus descendentes.
Outra coisa que incomoda muito, e é muito normalizada sobretudo em Hollywood, é o Whitewashing: colocar atores brancos populares encenando personagens que eram originalmente de origem asiática, se apropriando do nosso espaço e da nossa cultura sem receio algum, apagando nossa pouca e necessária presença com uma que nunca fez falta. Alguns filmes mais recentes que fizeram isso foram Ghost in the Shell (2017), Alita (2019), Doctor Strange (2016), A viagem (2012), Sob o mesmo céu (2015).

Fonte: Kotaku
No movimento Stop Asian Hate, uma foto viralizou de uma mulher segurando uma placa que, traduzida do inglês, dizia “Ame a nós como você ama nossa comida”, e apesar de ser um pouco controversa, afinal deveríamos ser respeitados apenas por ser pessoas, independente se gostam ou não da nossa cultura, o mesmo pode ser dito no cinema.

Fonte: Reddit
O que eu peço aos novos cineastas é que respeitem a nós tanto quanto vocês respeitam nossa cultura e influência no cinema. Valorizem profissionais do cinema de origem asiática, na frente ou atrás das telas; não façam substituições desnecessárias de personagem que representam minorias por brancos; jamais maquie atores brancos para parecerem asiáticos (o chamado yellowface); não propaguem os mesmos estereótipos de décadas atrás; escrevam personagens asiáticos complexos e humanos, que se aproximem do público e não o afastem. Entendam também que nos valorizar não é o fetiche, não é se apropriar, ou apenas criar papéis assim para atingir uma cota. Se forem representar qualquer parte da nossa cultura em seus filmes, pesquise, nos consulte, não idealize cenas apenas para terem impacto visual ou criar ambientes exóticos sem ter uma pesquisa prévia que comprove que essa cena faz algum sentido cultural. Não ache que toda a cultura do leste asiático é a mesma, existem diferenças gritantes entre estas.
Se inspirem o quanto quiserem, mas por favor não tirem nosso espaço e nossa voz ao fazer isso.
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