Tempos e Ventos
- camaraescurarevist
- 14 de out. de 2021
- 3 min de leitura
por Lucas Rangel
revisado por Mariana Peixoto
Tempos e Ventos é um filme de drama familiar, lançado em 2006, escrito e dirigido por Reha Erdem, e que ganhou o prêmio de Melhor Filme nos Festivais Internacionais de Cinema de Istambul e de SP.
O filme mostra a vida em transformação de 3 pré-adolescentes turcos em uma vila muito pequena do interior e aparentemente parada no tempo. Ömer, Yakup e Yildiz são os protagonistas dessa história, os três têm por volta de 12 anos e frequentam a mesma sala de aula, sendo Yakup e Ömer melhores amigos.
Yildiz é uma menina que está enfrentando dificuldades para conseguir conciliar seus estudos com a cobrança cada vez maior de sua mãe para que ela ajude nas tarefas domésticas e a cuidar de seu irmão bebê. Ömer é filho do rigoroso líder comunitário e sofre com sentimento de abandono paterno em detrimento de seu irmão caçula, o que o faz odiar seu próprio pai. Yakup, o melhor amigo e confidente de Ömer, é apaixonado pela professora, e sua mãe está prestes a ter um bebê.
Com o desenvolvimento do filme a vida dos três vai se entrelaçando por meio de seus encontros na rua enquanto fazem favores aos familiares mais velhos e desempenham um papel social central na comunidade, o que serve de base para mostrar a transformação da cultura islâmica. Isso pois a vila era, em sua maioria, composta de pastores e preservava muito bem sua tradição, mostrando pessoas simples com uma carga cultural muito forte, contrastando com a visão mais nova dos personagens principais. Essas características trazem um peso a mais para a vida dessas crianças, que estão no delicado momento de passagem para a vida adulta o que se traduz em situações dramáticas marcantes para a vida de cada uma delas.
A forte tensão dramática é balanceada pela contemplação da beleza natural dos entornos da vila com paisagens montanhosas à beira do mar, e o forte contato de Ömer, Yildiz e Yakup com a natureza, o que ajuda a deixá-lo um filme leve. Além disso, a presença marcante de uma trilha sonora de música clássica que acompanha quase todo filme, deixando-o ainda mais emocionante.
Outro ponto que corrobora para essa sensação são as imagens, com cores vivas e bastante iluminadas, como por exemplo numa cena em que a força das cores do campo contrasta bem fortemente as flores com o uniforme azul dos alunos dando um toque onírico no realismo preponderante assim como no momento que eles se deitam sobre arbustos para descansar.
Para quem já viu o filme é inegável a atuação perfeita, além de agradar quem gosta de clímax fortes. Pois quando chega no clímax, já perto do fim, Yakup descobre que seu pai também era apaixonado pela sua professora e começa a odiá-lo também. Ömer que já odiava seu pai o joga do precipício, mas ele não morre, fazendo ele se consumir de culpa. Yildiz torce o pé e deixa seu irmão cair no chão e desmaia depois de sua mãe furiosa tentar agredi-la, mas é socorrida pelo seu pai. Por fim, mas não menos importante, o término não é trágico nem feliz, o que combina com o filme como um todo que mostra a realidade de forma tão delicada, com uma influência da natureza sempre muito intensa, tudo de forma poética.
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