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Bacurau

  • camaraescurarevist
  • 24 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de dez. de 2020

Por Murilo Bronzeri


Em novembro de 2017, logo após assistir “Bingo: O Rei das Manhãs”, achei que não haveria outro filme nacional que me causaria tanta admiração tão cedo. Mas, surpreendentemente, do melhor jeito possível, Bacurau me encantou. Não é à toa que o longa realizado por Kleber Mendonça Filho (diretor e roteirista de “Aquarius” e “O Som ao Redor”) e Juliano Dornelles (diretor de arte destes mesmo filmes) foi laureado com o Prêmio do Júri em Cannes.

O filme, que se passa daqui há alguns anos, se inicia com um letreiro num fundo de estrelas, ao maior estilo Star Wars, – de onde também pegou emprestado as “transições de Power Point” – o que faz parecer que estamos prestes a assistir uma ficção científica, mas o filme é está mais para uma mistura de gêneros. Logo após o letreiro, o filme passa a mostrar a Terra – que aliás não é plana – e vai se aproximando do Brasil, até chegar à cidade de Bacurau, no interior de Pernambuco, brincando, assim, com a nossa expectativa de ver uma cidade altamente tecnológica e futurística ao nos mostrar uma cidade pequena e simples. Além disso, Bacurau tem grande influência dos filmes de faroeste e o filme também tem cenas de violência dignas de um filme de Quentin Tarantino, sem falar no seu humor sutil, como quando um cidadão de Bacurau vê o que parece ser um disco voador, mas, ao relatar para outro morador da cidade, em vez de dizer que viu um ET – o que é o mais esperado dado a aparência do objeto – diz que definitivamente viu um drone – algo que provavelmente a maioria dos espectadores nem imaginariam que tal personagem conhecesse.

A trama da obra pode parecer um pouco confusa no começo, mas aos poucos vamos entendendo que se trata sobre um futuro recente distópico, no qual a água é escassa e a cultura norte-americana tomou conta do país, e o plot principal é a resistência dos cidadãos de Bacurau ao desaparecimento da cidade. Inclusive, dado o contexto em que o filme foi criado e o cenário político atual do país e do mundo, não pode-se deixar de vê-lo como uma parábola, muito crítica à nossa atualidade.

Um ponto muito interessante da trama, e que pode passar despercebido para alguns, é o momento em que dois brasileiros, contratados por um exército estrangeiro para ajudar a completar a missão deles contra Bacurau, dizem ser como os próprios estrangeiros, por terem vindo do sul do país, um lugar com muitas colônias europeias. Os dois se tornam ali um motivo de chacota para o pessoal deste exército, e essa cena escancara a idiotice de muitos brasileiros que se acham superiores por terem descendência europeia, estadunidense ou o que quer que seja – desde que não seja indígena, latino-americana ou africana.

Por fim, Bacurau deixa uma dúvida para a gente: “será que os moradores da cidade não foram longe demais?”, um questionamento feito pelo próprio filme por meio de um diálogo. Mas, ao refletirmos sobre tudo que a cidade passou, talvez vejamos a reação violenta como necessária, ou talvez nem a vejamos como violenta at all. A única coisa que não se pode dizer é que aquele era o único desfecho possível para o conflito, já que, para ter menos sangue derramado, bastaria que os invasores tivessem lido a placa que se encontrava na entrada da cidade: “Se for, vá na paz”.


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