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Camocim, Cidade Dividida

  • camaraescurarevist
  • 24 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 2 de dez. de 2020

Por Lucas Behrmann


Distribuído pela Vitrine Filmes, o novo filme de Quentin Delaroche (direção, fotografia e montagem) é um registro das eleições municipais da pequena cidade de Camocim de São Félix, no interior de Pernambuco, através da vivência da jovem Mayara Gomes e sua atuação como cabo eleitoral na campanha de seu amigo e candidato a vereador César Lucena.

Em uma campanha entre dois grandes partidos – os Vermelhos contra os Azuis – que se diferem mais pela cor de suas bandeiras que por suas ideologias políticas, a lente atenta e imparcial de Delaroche encontra uma cidade extremamente polarizada, que tem a identificação político-partidária no cerne de seus conflitos sociais.

Mayara e César fazem parte do partido Azul e possuem uma abordagem intimista de propaganda, conversado com os cidadãos nas portas de suas casas e produzindo seu próprio conteúdo midiático (como jingles e conteúdo para as redes sociais), e é a partir deles que vemos as peculiaridades do processo eleitoral em Camocim.

Talvez a maior delas seja que as eleições também funcionam como um evento cultural e de entretenimento que se assemelha muito ao carnaval brasileiro, com grande engajamento da população nas ruas da cidade em eventos que possuem música, muita bebida e shows, que são brevemente interrompidos por discursos populistas dos candidatos e até mesmo performances dos mesmos (como na cena em que um deles canta sertanejo no microfone, animando a multidão).

Esse lado festivo é contrastado, é claro, por muita violência e ebriedade. Em diversas cenas vemos momentos de tensão onde os cidadãos, claramente alcoolizados, discutem entre si proferindo ofensas e xingamentos e algumas vezes partem para a agressão física, escancarando a brutalidade que permeia a atmosfera hostil da pequena sociedade. O diretor se preocupa também em apresentar ao espectador camadas mais sutis desse cenário, como na cena em que um rapaz conta que sua avó se recusa a abraçá-lo unicamente porque este não apoia o mesmo partido de sua família.

No centro de todo o caos, a jovem e engajada Mayara se preocupa em conversar sobre a importância de mudanças e união na construção de um futuro melhor para a cidade com apoiadores do partido oposto e jovens politicamente incrédulos que não aprovam nenhum dos partidos. Sua fala reflete esperança e luta, mas o cenário já está montado.

Em dado momento, o espectador é situado no tempo pelo áudio de uma notícia de jornal, que fala sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Uma cena curta que simboliza o quão distante o cenário nacional se encontra da bolha social e partidária que rege Camocim. Na cidade, quase não se fala de propostas ou ideais, e muitos admitem que seu envolvimento político está vinculado à oferta de empregos ou mesmo a ordens diretas de seus patrões.

Com execução e montagem competentes, Quentin Delaroche produziu um bom longa-metragem documental de guerrilha. Camocim é simples, mas extremamente relevante, e nos permite refletir através de um exemplo extremo sobre a eficácia de nossas estruturas sociais e políticas, através da visão de uma geração que permanece forte e motivada.


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