Explorando os Gêneros do Cinema Japonês
- camaraescurarevist
- 24 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de dez. de 2020
Por Marcela Akemi
No manhã do último dia da Semana Play Rec (16/10), recebemos o pesquisador e professor Leandro Caraça para uma palestra incrível sobre a história do cinema japonês.
A palestra, que foi recebida com muito entusiasmo pela comunidade acadêmica, contou com a presença de mais de 140 alunos da Anhembi Morumbi, incluindo a presença ilustre de professores e estudiosos de cinema que interagiram e complementaram com perguntas e comentários adicionais. Ao final da apresentação, Caraça se deparou com uma boa quantidade de elogios e despertou nos alunos muito interesse em relação ao cinema japonês, o qual muitas vezes é ignorado ou pouco aprofundado no âmbito acadêmico.
A apresentação teve um caráter de aula, e nela foi realizado um panorama sobre o cinema japonês com foco nas duas Eras de Ouro (1935-1939 e 1951-1956) e nos cineastas mais emblemáticos da nação: Akira Kurosawa, Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi e Mikio Naruse. Apesar do pouco tempo para falar sobre um cinema tão importante e influente, Caraça cobriu o tema com abundante respeito e mestria.
Um dos muitos tópicos da palestra foi em relação aos gêneros dos filmes japoneses, que despertaram muito interesse e curiosidade. Sendo assim, nesta matéria será aprofundado este tema, e também exemplificado em filmes pertinentes, que servem como recomendações para os que tiverem curiosidade sobre o rico cinema nipônico.
Não serão citadas as animações japonesas nesta lista, já que as mesmas necessitam de uma matéria exclusivamente para elas.
Jidaigeki e Chanbara
Os Jidaigeki, em poucas palavras, são os filmes de época (especialmente da Era Meiji e períodos Edo e Heian). São dramas que contam frequentemente com personagens guerreiros, artesãos, comerciantes e indivíduos de alto escalão.
O Chanbara (traduzido para "luta de espadas") é considerado um subgênero de Jidaigeki e corresponde especificamente aos filmes de samurai.
Akira Kurosawa foi um diretor que frequentemente explorou esses gêneros.
Recomendações:
Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa

Um clássico absoluto do cinema, Os Sete Samurais tem 3 horas e meia de duração e se passa no século XVI. O filme segue a história de sete samurais desempregados que ensinam uma pobre aldeia a se defender dos bandidos que a invadem. É considerada por muitos a grande obra prima de Kurosawa.
Rashomon (1950), de Akira Kurosawa

Nesse filme, a violação sexual de uma noiva e o assassinato de seu noivo samurai é recontado pelos pontos de vista de um bandido, a própria noiva, o fantasma do noivo e um lenhador. O filme deu o nome ao "efeito Rashomon", que diz respeito a um recurso de roteiro que conta com diferentes perspectivas de personagens e contradições, deixando questões abertas à interpretação.
Yakuza Eiga
Fazem parte deste gênero os filmes que focam nos Yakuza (membros de grupos de crime organizado do Japão). Eram filmes considerados populares e faziam sucesso comercial entre o público (principalmente o masculino), talvez pela grande abrangência de questões que poderiam ser abordadas, como honra, romance, dilemas morais e crime.
Recomendações:
Contos Brutais de Honra (1965), de Kiyoshi Saeki

O filme de ação é protagonizado por Ken Takakura, o maior astro do gênero, e conta a história de um honrado yakuza que enfrenta uma maliciosa gangue rival.
Aru koroshi ya (1967), de Kazuo Mori

Um suspense sombrio que segue um veterano da Segunda Guerra Mundial que durante o dia trabalha em um restaurante, mas à noite, como capanga para duas gangues yakuza.
Shomin-geki (ou Shoshimin-eiga)
Encontram-se no gênero Shoshimin-eiga (ou Shomin-Geki, como é conhecido no ocidente) os filmes japoneses com caráter realista, retratando dramas cotidianos de pessoas comuns da classe trabalhadora.
Os diretores mais consagrados de gênero foram Mikio Naruse e Yasujiro Ozu.
Recomendações:
Meninos de Tóquio (1932), de Yasujiro Ozu

Como indica o nome, o filme se passa em Tóquio e conta a história de dois pequenos irmãos que se envolvem com uma gangue e descobrem que o pai não é tão virtuoso quanto eles pensavam. O filme, de sucesso expressivo, é considerado a primeira das obras-primas de Ozu.
Kimi to wakarete (1933), de Mikio Naruse

O drama mostra a relação de uma mãe gueixa com o seu filho adolescente que se envergonha da sua profissão, enquanto ele se envolve com uma jovem gueixa que tenta tirar o garoto da vida delinquente. O filme mostra a dura vida das mulheres japonesas durante os anos 30.
Tokusatsu e Kaiju Eiga
Tokusatsu é um termo japonês que diz respeito aos filmes e programas de televisão que contam com o uso intenso de efeitos especiais, enquanto o sub gênero Kaiju Eiga são os filmes com criaturas estranhas, gigantes e monstruosas.
Recomendações:
Godzilla (1954 - presente), da Toho Co. Ltda.

Godzilla, o kaiju mais popular e icônico, é um monstro gigante atômico que dispara raios pela boca e já apareceu em mais de 30 filmes entre 1954 e 2020, contando com co-produções internacionais, e inspirou muitos outros kaijus. O monstro em si era feito inicialmente com efeitos especiais e um ator fantasiado, mas nas últimas obras foi construído com CGI.
Rodan (1956), de Ishiro Honda

Outro clássico da Toho Co. Ltda., Rodan (ou Radon) toma a forma de um Pteranodon gigante e radioativo. Assim como outros kaijus, o Rodan fez diversas aparições em filmes do Godzilla e faz parte do MonsterVerse, franquia americana que inclui também King Kong, Mothra e King Ghidorah.
Kaidan Eiga
No Ocidente, o Japão também é muito conhecido pelas suas obras audiovisuais sobrenaturais, assustadoras, estranhas e misteriosas. Sendo assim, para terminar nossa lista panorâmica de filmes de gêneros japoneses, vamos conhecer alguns filmes celebrados mundialmente do gênero kaidan.
Recomendações:
Kwaidan - As Quatro Faces da Morte (1964), de Masaki Kobayashi

Um filme que conta 4 histórias diferentes, mas todas têm em comum assombrações. As histórias são "O cabelo negro", "A mulher da neve", "Hoichi, o sem-orelha" e, por fim, "Na xícara de chá".
Ringu (1998), de Hideo Nakata

Apesar de ser mais recente, Ringu entra na lista por ser um dos filmes mais icônicos do cinema de horror em geral. O longa-metragem gira em torno de uma fita cassete com vídeos estranhos e tenebrosos e uma ligação misteriosa que diz que a pessoa que assistiu à fita morrerá em sete dias. Fez sucesso comercial enorme no Japão e foi adaptado posteriormente na Coreia do Sul e nos Estados Unidos.
Em síntese, tanto a palestra de Leandro Caraça quanto essa lista de recomendações abrem uma janela para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre o rico cinema japonês e sua enorme influência no cinema americano e mundial, inspirando filmes western, a franquia Star Wars, o diretor Quentin Tarantino, o cinema de horror, e incontáveis outros exemplos.
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